9 anos, 6 meses, e 10 dias. Esse foi o tempo exato em que Gilmore Girls ficou fora do ar. E foi exatamente esse o tempo pelo qual esperei a série voltar. Meu coração de fã sempre sentia que um dia teria Lorelai e Rory de volta em minha vida, mesmo que isso demorasse a eternidade. E finalmente esse momento chegou. Confesso que meus nervos estavam à flor da pele. Não consegui dormir nas três noites que antecederam a estreia, mas finalmente era hora de voltar para Stars Hollow, rever meus personagens favoritos e, claro, entrar de cabeça nessa jornada de seis horas rumo às quatro palavras finais.
A sensação é de que havia passado apenas um dia. Que eu havia me despedido das garotas Gilmore ontem, e foi muito bom reencontrá-las sentadas no coreto. Gilmore Girls estava oficialmente de volta com todos os elementos que fizeram dela algo tão especial para os fãs: Lorelai e Rory sentadas no coreto da cidade, falando mais rápido que a velocidade da luz e fazendo mil referências à cultura pop. E tem os lalala’s. E tem o trovador. E tem a neve… É impressionante a conexão entre a neve e Lorelai.
A história começa no final de 2015, mais precisamente no inverno, e nos deparamos com Rory, que após 9 anos vagando por aí, encontra-se em uma fase de dúvidas e questionamentos, bem como grande parte da geração Y. Perdida entre dezenas de caixas com seus pertences, ela procura um sentido para sua vida mesmo sem saber por onde começar. Namora um cara há dois anos, e sequer lembra que ele existe. Aliás, ninguém lembra dele ou de seu nome.
Lorelai, apesar de estar financeiramente estável e aparentemente feliz, encontra-se cercada de problemas e alguns conflitos internos: Sookie foi embora há dois anos e nunca mais voltou, o que faz ela não se agradar de nenhum chef no comando da cozinha da Dragonfly; Michel está infeliz como gerente e pensa em deixá-la; além disso, tem a relação com Luke, com quem ela está há 9 anos, porém estagnada. Isso a leva até a procurar uma clínica de fertilização numa atitude bastante desesperada de ter um filho. Percebe-se que Lauren Graham nunca esteve tão afiada no papel e consegue dar o tom certo em todas as suas cenas, seja no drama ou na comédia. Sempre que ela aparecia de olhos marejados, os meus também ficavam.
E o que dizer de Emily, não é mesmo? A personagem continua impecável, graças ao brilhante trabalho da rainha Kelly Bishop. Não tenho nada a reclamar de sua narrativa, que teve um desenvolvimento maravilhoso durante todo o revival. A forma como ela lidou com a morte de Richard, seu companheiro de 50 anos, realmente me fez sentir e me colocou dentro da história. O quadro gigante, o flashback do funeral (um dos pontos altos do episódio), a discussão com Lorelai e os problemas que isso acarretaram… Tudo estava no ponto. A cena em que ela se desfaz de seus pertences que não lhe trazem alegria (clara referência ao livro A Mágica da Arrumação, de Marie Kondo) merece um Emmy. Mais uma vez o diálogo entre ela e Lorelai foi bem tocante e as duas se mostraram perfeita sintonia, relembrando suas cenas clássicas. Berta, sua empregada, é um caso à parte. Rose Abdoo, que por anos interpretou Gypsy, a mecânica de Stars Hollow, dessa vez se divide em dois papéis e consegue roubar a cena diversas vezes.
Falando em roubar a cena, mesmo sendo um personagem secundário, Kirk, o faz-tudo de Stars Hollow, fez isso desde sua primeira aparição. Em mais uma de suas invenções, agora ele investe no ramo empresarial e lança o Ööö-ber, aplicativo concorrente do Über, e que é gerenciado por sua mãe. Lorelai acaba sendo obrigada a usar o serviço rumo ao jantar de sexta e Kirk vai parar na mesa junto com Emily, que não faz ideia de quem ele seja. Petal, sua porquinha de estimação, é um espetáculo à parte.
Em relação aos outros personagens secundários, vale elogiar a atuação de Yanic Truesdale, que continua dando a Michel o mesmo ar mal humorado e ranzinza que tanto amamos. Sua sexualidade, algo que sempre foi questionado na série clássica, agora foi revelada de vez. Michel está casado e pensa em ter filhos com seu marido, que pelo visto não será visto em nenhum momento do revival.
Confesso que fiquei bem ansioso para ver os rumos que Lane havia tomado em sua vida, mas parece que esqueceram dela, que tanto fez pela série e que tinha chances de ganhar um bom destaque. A personagem ficou estagnada assim como já estava na última vez em que a vimos. Aliás, isso foi um problema para alguns personagens. Logan Huntzberger, por exemplo, continua o mesmo rico mimado de sempre e que agora mantém um romance sem compromisso com Rory. Um dos motivos pelos quais ela está em Londres o tempo inteiro.
E se teve alguém que soube honrar sua essência, esse alguém foi Paris Geller. Ela estava tão no ponto, que o visual com o qual estamos acostumados a vê-la em How to Get Away with Murder na pele de Bonnie era o mesmo, mas nos fez esquecer desse detalhe imediatamente. Agora, divorciada de Doyle e proprietária de uma clínica de fertilização e barrigas de aluguel, Paris ajuda Lorelai e Luke na busca por alguém que gere o bebê deles, o que a faz ir direto a Stars Hollow com possíveis candidatas. Garantia de muitas risadas e certeza de que muito ainda está por vir.
O saldo do episódio foi positivo. Amy Sherman-Palladino conseguiu acertar em grande parte do roteiro. Algumas piadas funcionaram, outras nem tanto: o fato de todos esquecerem da existência de Paul, o namorado de Rory começou engraçada e depois ficou repetitiva; o mesmo tenho a dizer sobre a cena do restaurante em Londres, em que Naomi Shropshire sempre toma o prato dos outros clientes. Logan e Rory no mesmo plot “sem compromisso”? Desnecessário.
Vale lembrar que…
- A homenagem a Edward Herrmann foi emocionante e fez Richard estar tão presente em cena como qualquer outro personagem.
- Queremos um spin-off só da Petal!
- Não era necessário Jason ter aparecido.
- O abraço de Luke em Emily no jantar de sexta foi sensacional!
- Todo o plot do Wi-Fi do Luke’s foi hilário.
- Queria ver mais da Miss Patty, que mal apareceu.