Eu precisei de três dias após assistir ao revival para conseguir escrever alguma coisa concreta. Precisei também reassistir e conversar muito com muitos amigos que também assistiram e estavam tão chocados quanto eu para começar a me acalmar e não deixar o calor do momento tomar conta do meu raciocínio.
“Outono”, a última parte de Gilmore Girls: Um Ano para Recordar, começa com Lorelai (Lauren Graham) se preparando para ter sua aventura Livre (o livro, não o filme) e o que vemos é algo raro: a personagem lidando sozinha com seus problemas (mesmo que esse problema seja apenas fazer caber todas as suas coisas dentro da mochila) e sem ninguém familiar com quem tagarelar ou fazer piada. Ela precisava ter a sensação de que estava realizando alguma coisa, vivendo alguma coisa. Acho que a Lorelai no auge de seus 48 anos precisava disso.

Contudo, Lorelai não consegue fazer a trilha que tanto planejou – impedida por seu namorado da vida real, Peter Krause (Parenthood) – e encontra mais uma chance de mudar sua rota. Emily (Kelly Bishop) sempre jogou na cara da filha que tudo tem que ser do jeito que ela quer e naquele momento Lorelai se viu sem controle da situação: sem autorização para seguir trilha, sem poder comprar seu café por causa da lanchonete fechada, sem ninguém com quem reclamar. É aí que ela faz seu próprio caminho, tem um momento de clareza e liga para a mãe para contar uma história muito bonita que viveu com seu pai na infância. Um momento em que ela também se sentiu sozinha, sem controle da situação, e seu pai foi seu grande herói. Isso encheu o coração de Emily de felicidade e nossa cara de lágrimas. Sério, eu chorei muito nessa cena. Talvez a melhor cena do revival, na minha opinião. Quero muito que o Emmy finalmente se retrate com Lauren Graham e a indique para o prêmio de Melhor Atriz no ano que vem.

Rory (Alexis Bledel), por sua vez, recebe uma surpresa de Logan (Matt Czuchry) e a Brigada de Vida e Morte, que estão em Stars Hollow à noite para fazer muitas peripécias, desde jogar golfe nos telhados até dançar tango num salão desconhecido – e depois comprar o local. Na manhã seguinte, ela tem a comprovação de que Logan não vai abrir mão de sua vida luxuosa e de seu futuro confortável para viver só com ela. A chave que ele oferece, que os mais iludidos gostariam que fosse do apartamento dele em Londres, é só a chave de uma das mansões da família para ela ir lá escrever seu livro. Sozinha. Não há futuro para Rory e Logan juntos.

Mas Rory já sabe onde vai escrever. Ao chegar na mansão de Emily, ela relembra momentos que passou ali com seus avós e sua mãe, numa edição de tirar o fôlego, com imagens do próprio Richard (Edward Herrmann). Este definitivamente é o episódio das maiores emoções que poderíamos sentir.

Emily, na minha opinião, foi a personagem que mais evoluiu com esse revival. Começou perdida por conta da morte repentina do marido, mas soube se equilibrar emocionalmente, deixou de ser dura com as empregadas que contratava (Berta e a família foram um grande consolo e ajuda para ela, não?), buscou se acertar com a filha, soltou-se das amarras do DAR (em grande estilo), decidiu comprar um novo e calmo lugar para morar e até arranjou o emprego ideal lá! Fiquei feliz por ver a personagem em paz. Kelly Bishop, junto de Lauren Graham, merece infinitos aplausos por sua performance.

Por falar nas duas, que maravilhosa foi a cena de Lorelai pedindo dinheiro a Emily para expandir a Dragonfly Inn e esta aceitando com a condição de que a visitem em Nantucket nas férias, repetindo a clássica cena em que Lorelai pede dinheiro aos pais no piloto da série!

Enquanto isso, Rory tem mais dois encontros significativos. O primeiro é com seu pai, Christopher (David Sutcliffe), o qual ela questiona sobre como se sente por não tê-la criado junto de sua mãe. E este justifica que era o destino (oi?). Que vida triste o Chris parece estar tendo. O outro encontro é com Dean (Jared Padalecki) no Doose’s Market, bem mais alegre e cheio de boas lembranças. Apesar de nunca ter torcido para o casal, fiquei muito feliz por tudo o que Rory disse ao seu primeiro namorado e achei que foi uma das melhores e mais bonitas conclusões da série, com direito a referência ao amido de milho roubado.


Em compensação, uma participação que não me agradou como eu esperava foi a de Sookie. Todos sabemos do transtorno que foi colocar Melissa McCarthy nesse revival. Primeiro ela disse que não havia sido convidada, mas Amy disse que sim, depois ela aceitou participar, mas só teria disponibilidade para um dia de gravação. E deu no que deu: uma justificativa bem esquisita para a ausência da personagem e uma participação que talvez seria melhor não ter acontecido. Na minha visão, Melissa não incorporou a Sookie que a gente conhece. Senti que era a atriz ali naquela cena, retraída e ressentida. A emoção da cena, para mim, veio apenas do lado da Lauren.

Logan foi embora, Dean teve seu desfecho, de Paul (Jack Carpenter) ninguém se lembra, então sobra Jess (Milo Ventimiglia), que está tranquilamente lendo na casa das Gilmore. Enquanto Luke (Scott Patterson) estiver com Lorelai, Jess fará parte da família e isso é fato. Mas isso significa que ele e Rory vão ficar juntos? Não dessa vez. Enquanto Rory está só feliz em contar para Jess que sua mãe topou a ideia do livro, intitulado “Gilmore Girls”, Jess claramente demonstra – só para nós, espectadores – que ainda não superou a garota. Seria ele o Luke da Rory? Aquele que estará sempre presente, vendo-a sair com outros rapazes, até ela perceber que eles foram feitos um para o outro? O que você acha, leitor?

Depois de seu momento Livre, Lorelai se sentiu segura para voltar para casa e precisou acalmar um Luke que estava à beira dos nervos achando que ela ia abandoná-lo. E essa é uma ótima oportunidade que Amy achou para fazê-lo se declarar lindamente para Lorelai. É quando ela revela que marcou a data do casamento e ele busca o anel de noivado – me fazendo chorar tudo de novo. A decoração fica por conta do Kirk (Sean Gunn) – perfeita, por sinal, como bem aponta Lorelai na mensagem de texto – e Amy nos presenteia com uma das sequências mais lindas da série toda: Lorelai e Luke, acompanhados de Rory, resolvem fugir à noite até a praça da cidade para casar às escondidas, na véspera da cerimônia marcada. Cercados de luzes, enfeites de outono, flores, chapéus nas árvores, bailarinas dançando, o reverendo Skinner (Jim Jansen) oficializa o matrimônio. Lane (Keiko Agena) e Michel (Yanic Truesdale) também estão lá – claro que eu queria que Emily e Sookie também estivessem, mas agora não é hora de reclamar e sim contemplar esse momento tão esperado há tantos anos. Perfeito. Tudo perfeito.

E então chegamos, finalmente, às famosas quatro palavras finais. A ansiedade aumenta, o coração bate mais forte sem ter certeza se essa é mesmo a última cena e… Lorelai e Rory soltam o diálogo:
“- Mãe…
– Sim?
– Estou grávida.”
Tela escura. Créditos. Sim, essa foi a cena final. Essas foram as quatro palavras finais. Espera aí, essas foram as quatro palavras finais? As palavras pelas quais esperamos por tanto tempo? Choque. Não pelo que foi dito, mesmo porque muitas pessoas já haviam suspeitado que as palavras finais teriam a ver com gravidez, mas eu sinceramente achava que Amy seria mais criativa, mais original, mais emblemática. Entendi a intenção do ciclo – as próprias Emily e Lorelai brindam ao “ciclo da vida” minutos antes no mesmo episódio –, mas precisava ser esse exatamente o final? Não merecíamos algo mais caloroso e menos chocante? Eu quero voltar a sentir o que eu estava sentindo na cena do casamento! Não queria que esses segundos finais estragassem a maravilhosa experiência que eu tive durante seis horas. Se esse foi o final idealizado por Amy desde o princípio, ela pretendia terminar sua história com tantas pontas soltas? Não sei não. Talvez tenha uma nova temporada. E isso não necessariamente é bom.

A questão é que Amy Sherman-Palladino é como Lorelai e sempre quer tudo do jeito dela. Ela não faz fanservice. Esses personagens são dela e só cabe a ela decidir o destino deles. Mas talvez eu tenha que beber o tanto de álcool que beberam nesse revival para começar a aceitar sua decisão.
E você, leitor? Quais suas impressões de Gilmore Girls: Um Ano para Recordar? Acha que veremos uma continuação? Compartilhe com a gente nos comentários.