Gilmore Girls é uma série repleta de referências. Sejam elas musicais, literárias, cinematográficas ou, até mesmo, históricas. Escrito por Amy Sherman-Palladino e dirigido por Kenny Ortega (High School Musical), “They Shoot Gilmores, Don’t They?” (T3E7) é um dos episódios mais comentados entre os fãs e que sempre figura nas listas dos favoritos de todo mundo. Stars Hollow se reúne para uma insana batalha onde os moradores se enfrentam em uma maratona de dança que dura horas a fio.
Maratona no cinema
O título e o roteiro do episódio são uma clara referência ao clássico filme de 1969, A Noite dos Desesperados, que em inglês se chama They Shoot Horses, Don’t They?. Há muitas semelhanças na fotografia, cenários, figurinos, enquadramentos e cenas da obra de Sydney Pollack. Estrelado por Jane Fonda no papel de Gloria Beatty, o filme retrata o período da Grande Depressão nos anos 1930 nos Estados Unidos, onde uma imensa maioria da população carecia de uma vida digna, sofrendo com o desemprego. Foi nessa época que, entre outras oportunidades inusitadas, apareceram os concursos de dança, que testavam ao extremo a resistência dos competidores em troca de comida, roupas e alguns míseros trocados.
Assassinato na pista de dança
Na música, o filme serviu de inspiração para o clipe de “Murder on the Dancefloor” da inglesa Sophie Ellis-Bextor, que recentemente voltou aos holofotes graças a Saltburn, trillher da diretora Emerald Fennell.
Ao contrário do clipe, na vida real as coisas eram ainda bem mais intensas.
As maratonas de dança dos anos 1930
Durante a Grande Depressão nos Estados Unidos, surgiram as maratonas de dança, eventos que se estendiam por horas, semanas e até meses. A finalidade era distrair a população empobrecida, oferecendo aos casais dançarinos a esperança de ganhar prêmios em dinheiro, variando de $1.000 a $5.000 dólares, uma fortuna na época. A alimentação gratuita durante as competições acentuava a bizarria do contexto, com participantes dançando por um pedaço de pão.
As maratonas eram um espetáculo peculiar, com participantes exaustos desmaiando no final da exaustão, proporcionando entretenimento ao público. As regras permitiam descansos a cada duas horas por 15 minutos nas primeiras cem horas, e a troca de parceiros era permitida caso um deles não conseguisse mais permanecer de pé. O papel crucial do apresentador incluía manter o interesse do público, propondo tarefas como cantar ou caminhar exaustivamente para provocar risos na plateia.
Os dançarinos realizavam todas as atividades cotidianas, como comer, lavar-se e fazer a barba, sem interrupções. Algumas maratonas chegaram a incluir casamentos de participantes, arranjados pelos organizadores para divertir ainda mais o público. No entanto, o sonho de enriquecer rapidamente tornou-se realidade para poucos, resultando em derrotas e, muitas vezes, mortes na pista de dança, pois a exaustão levava à entrada em coma, sem ajuda devido à proibição de interrupções sob risco de desclassificação.
A Million Dollar Steel Pier Marathon, ocorrida de junho a novembro de 1932, detém o recorde como a maratona mais longa, totalizando 4.152 horas e 30 minutos. Devido às inúmeras mortes, as maratonas de dança foram proibidas em muitos estados no final da década de 1930. No entanto, a busca por enriquecimento rápido ainda levou algumas pessoas a participarem de maratonas clandestinas nos anos seguintes.